segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A veemência secular à ignorância

No ínterim do caso USP, vi na internet centenas de compartilhamentos de textos opinativos, charges afiadas e imagens de conteúdo sarcástico. A maioria deles preza pelo "questionamento de verdades absolutas" e roga para que o povo não acredite no que é divulgado pela mídia, mas tente entender a fundo o que se passa como alguém que está envolvido na situação. A ironia está no fato de os autores desses textos, das charges e das imagens tão disseminadas ultimamente serem a própria grande mídia.

Em nenhum momento vi um texto – ou que fossem três linhas – escrito por alguém “normal” – ou, para explicar melhor, alguém que não faça parte da turma dos formadores de opinião.

Nada contra o José Nêumanne Pinto ou o Juca Kfouri, mas de que adianta criticar a tal da “mídia”, ou melhor, o conceito dela, se no final sustentamos a própria com “nossas” opiniões? De que adianta martirizar esse monstro abstrato, se, no fim, o consumo que temos dela é o que acaba nos consumindo?

Gosto de pensar que o termo “massa” não existe por acaso, mas quer dizer algo passível de ser moldado por mãos “superiores” ou, de certo ponto de vista, sagradas. E como duvidar do poder sacro da mídia, sabendo que, nem mesmo quando queremos criticá-la, conseguimos nos livrar dela? Hoje, o que vejo é a sua utilização como forma de expressar opinião, e o caso USP é apenas um exemplo.

No fim, não sei de fato se o que ocorre é apenas a preguiça de pensar ou, de certa forma, uma veemência à ignorância, uma vez que é muito mais fácil apertar um botão e dizer “É isto o que penso”. Expor o que te faz pensar isso, por que te faz pensar isso e como te faz pensar isso não teria sentido, já que “isso” já foi lapidado ali por alguém.

Vale deixar claro que não foi minha intenção em nenhum momento expressar opiniões acerca do caso USP especificamente. E nem se quisesse, conseguiria maniqueizar uma questão que vai além de termos politicos, mas atinge âmbitos econômicos, históricos e sociológicos. A quem interessar possa, se for pra opinar, que seja numa conversa que transcenda o agora tão corriqueiro “Você é contra ou a favor da PM no campus?”

Haja preguiça de pensar.

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