segunda-feira, 20 de maio de 2013

Se isso te consola

Se isso te consola, não precisamos mais trabalhar todos os dias. Não precisamos acordar cedo, pegar trânsito, ouvir buzina e ambulância. O que precisamos é ter certeza da nossa companhia, é descobrir um roteiro e mudar de circunstância. Vamos viajar, zarpar, navegar ou voar, mas não vamos mais visualizar qualquer futuro sem graça. Uma ideia que a gente abraça, um destino que a gente enlaça e aí é só escolher entre vodka ou cachaça.

Se isso te consola, não precisamos mais de tanto concreto. A gente busca outro teto, um discreto, mas completo. Precisamos de um roteiro caribenho, um cruzeiro porto-riquenho, fugir daqui e ir viver no Havaí. Pode ser pro Norte e achar muito açaí, ou qualquer praia com caipiroska de abacaxi.

Se isso te consola, vamos ter os pés enterrados na areia, fugir da terra da garoa, esquecer essa cidade feia e subir numa canoa. Chega de chuva, a caipiroska também pode ser de uva. Vista pro mar pro coração acalmar, com céu azul guiando a gente pra bem longe do sul.

Se isso te consola, vamos viver sem preocupação, sem confusão, sem decisão. Vamos cair na gandaia, enjoar de viver na praia. Vamos viver fora da gaiola olhando caiçara jogar bola.

Vamos viver de caipiroska enfeitada de carambola, se isso te consola.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Cola

Sem mais, pensava em lhe dizer adeus sem nem sequer pensar em correr mais um risco. Achara-se em pleno encantamento com a vida interior e particular, e agora perdia-se na desilusão de se encontrar refletida em outra face.

Sem mais, tentava encontrar qualquer razão que lhe desse razão para um fim. E era num refrão de repetidos nãos que se achava por fim de cara com um sim. Tentava encontrar razões e perdia-se na ausência da resposta que lhe ostentasse um motivo, ou um simples não. Ao invés, viu-se de frente a um muro de coragem, um muro anti-perspectiva ou preservação.

Sem mais, deitava-se em frente ao muro e via nada além do céu, que por falta de água refletia sua imagem. Por volta do muro, pensava uma saída, e ainda deitada, vislumbrava e sonhava um esquivo, a falta da decisão, um regresso passivo. No fim, excluía de uma história o personagem, que de tão ostensivo, e de tão agressivo, induzia corriqueira auto-sabotagem.

Sem mais, implorava por um espaço no peito, um espaço no colo, um espaço lascivo, uma hospedagem. Implorava um espaço na pele, fosse adesivo, fosse tatuagem.