terça-feira, 19 de março de 2013

Bitter

Ele se deita, se ajeita em seu leito e se afeita nos pensamentos
Recolhe-se coberto, bem perto, bem certo de todos seus feitos
Se enrola pra dentro, sereno, sedento por ares espertos
Amarra seu jeito, seu peito em rimas desertas

E então desenrola, rebola na dança da noite
Uma cantiga, uma amiga, sereia no açoite
Bem quente, ele sente um adeus de repente

E aquele repente, que nunca se atenta
Pra se descobrir num tão de repente
Como uma serpente, num tão deprimente
Olhar reclinante
Céu lacrimejante
Amor tolerante
E o adeus adiante

sexta-feira, 15 de março de 2013

Madrugada orgânica

Abriu as pálpebras, olhou o teto. Na hora, lembrança. Coçou os olhos num movimento proposital como que para apagar o pensamento que lhe envolvia tão cedo pela manhã. Que horas são? Abriu a cortina de tule pra ver o céu estrelado e se dar conta de que não precisava ter levantado. O relógio no criado-mudo marcava 4h30. Bom, já que estou de pé, vou fumar um cigarro. Sentou na varanda pra ver a neve derreter no chão da rua, o sereno enferrujar os postes em art-nouveau, ou qualquer outra imagem invisível aos olhos. O silêncio avassalador notívago deu volume à brasa do primeiro trago queimando. Adoro essa paz, pensou. A neve no chão, os passos solitários de um ninguém cheio de pensamentos ali, andando. Sozinho. É homem ou mulher? Não dava pra ver, estava encapuzado e debaixo de um guarda-chuva. Chove? Neva. Bom, é alguém. O que será que ele pensa ali, sozinho, andando? Aqui dentro nenhum som, ela dorme silenciosamente. O único ruído era do vento entrando poético através das cortinas de tule. E, de quando em quando, da brasa queimando. Na mesa de cabeceira, ao lado do relógio, uma garrafa e duas taças. Todas vazias, o copo d'água cheio.

O que estava pensando mesmo? A cena não lhe parecia conferir necessidade de estar presente em qualquer outro momento que não fosse aquele. Tudo estava perfeito, daquele jeito tão sereno. Tão afeito. Tanta paz em seu peito. Lembrou-se de mirar a neve, mas o encapuzado já tinha desaparecido. Na rua branca, apenas impressões de seu calçado pra lembrar alguém que um dia passara por lá. Mas quem lembraria, se nem eu lembro o que pensara agora há pouco? E ele, o que será que pensava?

Na convicção da imbecilidade que é precisar pensar, contentou-se em sentir. Num movimento quase orgânico, entrou, encaixou-se de volta embaixo do cobertor, deu um beijo na boca roxa adormecida e suspirou tranquilo, desejando em seu ego solidário que o encapuzado não estivesse pensando em nada. Nem mesmo na beleza que poderia ter a imagem visível da neve afogando os postes em art-nouveau.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Glamour, Cultura e Prazeres: uma viagem à Provença

Segue um texto que escrevi sobre o turismo na região da Provence, no Sul da França. A proposta era produzir conteúdo para uma revista sobre vinhos, turismo e gastronomia.


"História, arquitetura, beleza, moda, arte, gastronomia, vinhos e cultura. Unir tudo isso significa pensar na França em sua mais pura e tradicional identidade. Quem busca a combinação de todos esses fatores, mas quer evitar o cenário urbano-caótico parisiense, deve pensar seriamente em fazer uma visita à região da Provença. Localizada no sudeste do país, a área circundada por rios históricos, montanhas nevadas e o Mar Mediterrâneo oferece paisagens que vão de praias de pedra e mar azul cristalino, passando por idílicas paisagens campestres, até o "mar branco" dos Alpes.

Cidades como Avignon, Aix-en-Provence e Cannes abrigam grandes festivais culturais, que recebem anualmente pessoas do mundo inteiro para apreciar espetáculos de teatro, música lírica e mostras cinematográficas. Marselha, a capital da província e cidade portuária, é o segundo maior e mais antigo município do país, sendo assim o centro comercial e industrial, e um dos lugares mais agitados para se visitar na Provença. A região ainda é berço das artes e antigo lar de Cézanne, Renoir, Matisse, Monet e outros grandes precursores do movimento impressionista do século XIX, o que agrega à região uma identidade cultural única.

A gastronomia provençal é conhecida ao redor do mundo pelo "Aioli" e principalmente pelo "Bouillabaisse", caldo à base de frutos do mar recolhidos tradicionalmente do Porto de Marselha. Pequenos e charmosos restaurantes na capital que ofereçam este prato estão presentes em qualquer roteiro gastronômico da região. Extensos vinhedos espalham-se pelo território da Provença, reconhecida por produzir excelentes vinhos rosé.
De clima mediterrâneo em boa parte de seu território, a Provença é banhada de sol o ano inteiro, mesmo que no inverno o frio alpino vigore em cidades mais ao norte, como Nice. As variações climáticas ao longo do território provençal propiciam a prática de esportes diversos, como windsurfing, esqui e passeios de bicicleta pelos campos.

Com suas costas, montanhas, campos, vinhedos e centros urbanos, o tão aclamado "estilo provençal" contempla o bom gosto da cultura rural francesa. Seu charme e elegância se espalham por diversos aspectos da vida dos habitantes locais e, consequentemente, agraciam turistas. O recente investimento em cultura e turismo na região tem atraído os olhares curiosos de todo o mundo, que vêm buscar as peculiaridades e a essência única ao tão conhecido "Sul da França".

Onde ficar

A capital Marselha conta com diversas opções de hotéis luxuosos, B&B e albergues com boa relação custo-benefício. Uma ótima opção é a "Vieille Ville", uma área com prédios históricos e alguns bares badalados para visitas noturnas. Próximo ao bairro ficam a Basilique de Notre Dame de la Gare e o La Table du Fort, restaurante cuja lagosta é a mais famosa da cidade. Em Aix-en-Provence, durante a temporada, alugar uma casa pode ser mais vantajoso, uma vez que muitos estudantes da Universidade da Provença regressam às suas cidades durante as férias. Saint-Tropez é uma cidade pequena, adorada por seus turistas, que vão para curtir paisagens perfeitas e mares cristalinos. A praia preferida de Brigitte Bardot possui pequenas e charmosas pousadas, mas o preço não costuma ser baixo. Em Nice, o Hotel Villa Les Cygnes é um dos mais conhecidos, com diárias de aproximadamente cem euros e localização próxima à praia. Arles, Avignon e Toulon são cidades pequenas e, portanto, a gama de hotéis luxuosos não é grande. Nesse caso, vale procurar albergues e pousadas.

O que comer

Um bom prato de Bouillabaisse num restaurante do bairro de "Le Panier" em Marselha, ou uma "baguete de véspera" com muito Aioli para harmonizar com o aclamado vinho rosé da região, são essenciais numa viagem à Provença. Para quem for até a "Haute Provence", às margens do rio Durance, ao norte, encontrará os "marchés" ao estilo da feira-livre brasileira, com trufas, legumes, azeitonas, frutas e outros alimentos frescos. Produtos da melhor qualidade são vendidos diretamente de seus produtores, que oferecem aos consumidores verdadeiras viagens gastronômicas.

A passagem pelos vinhedos da Provença é crucial aos apreciadores do bom vinho. Em virtude da excelência em produção do tipo rosé, a região já foi eleita um dos dez melhores destinos para degustação de vinhos na Europa. Com exceção de Cassis, especializada na fabricação de vinhos brancos, toda a região, como "Côtes de Provence" e "Coteaux d'Aix-en-Provence", tem foco na produção de rótulos desse tipo. O uso do alho em muitas das receitas típicas locais pede a harmonização com o rosé regional e com os tintos temperados, predominantemente das uvas Mourvedre e Grenache.

O que fazer

Invernos amenos e verões muito quentes caracterizam o clima mediterrâneo da região, cujas paisagens ficam ainda mais bonitas sob o Sol provençal. Porém, não apenas por isso, recomenda-se visitar a Provença no verão, quando os campos de lavanda florescem e são realizados os grandes festivais culturais no Sul da França. O Festival de Cannes contempla a exibição de filmes internacionais e premiações em diversas categorias do cinema. A oeste há o Festival d'Avignon, cuja proposta é prestigiar a arte do teatro. Já o Festival Internacional de Arte Lírica de Aix-en-Provence, todo mês de julho, apresenta espetáculos de ópera e música clássica.

E há muitas opções de esporte. O windsurfing nas praias da Côte d'Azur, a famosa Riviera Francesa, é uma boa pedida aos que buscam se aventurar no Mar Mediterrâneo. Já os que preferem um esporte mais leve "par-terre" devem investir nos passeios de bicicleta pelos campos de lavanda e girassóis ao centro da província. E, é claro, lá estão as melhores e mais conceituadas reservas para esqui do mundo, nos Alpes.
No inverno a viagem não é menos rica. Um passeio pela Promenade des Anglais em Nice, cafés à beira das praias de Saint-Tropez, bares na "Vieille Ville" ou feiras de artesanato em Le Panier, em Marselha, e ruas e mais ruas de lojas de grife em Cannes completam a proposta de comer bem, beber bem e comprar bem durante a viagem.

Bienvenue en Provence!"