quinta-feira, 20 de junho de 2013

Não quero me posicionar. Será que tudo bem?

Estou com medo.

No exercício e no estudo da profissão jornalista, aprendemos a incorporar a prática de se tirar para fora (assim, no pleonasmo mesmo) de uma situação na tentativa de analisá-la. O objetivo é angariar uma percepção um tanto mais lúcida - ou imparcial para os utópicos - sobre o que vem acontecendo.
Bem, isso costuma dar certo. Eu, pelo menos, me sinto um tanto privilegiada por fazer parte de uma camada sócio-intelectual com capacidade e senso-crítico para conseguir formar opinião própria sempre que desejado ou necessário. Tenho certeza de que você, que me lê, também.

De repente vejo um borrão à frente. Está difícil entender o que é verdade, o que é sensacionalismo, o que é opinião adulterada por visões tendenciosas ou partidárias. Quanto mais tento discernir e categorizar cada fatia de informação que recebo e absorvo, percebo que todas elas - sim, até as "fascistas", como está rolando num texto bem divulgado ultimamente por aí - são legítimas. Ao mesmo tempo, todas se empenham em vestir uma realidade (que de fato não existe) com roupas e acessórios fabricados a partir de bagagem cultural, ideal político, criação familiar e - por que não? - posts alheios de facebook.

Dia desses comentei que as redes sociais vêm dando aula de comunicação na mídia tradicional, talvez por não estarem vinculadas às relações de poder que permeiam o desempenho dos veículos jornalísticos, talvez por funcionarem com base numa dinâmica parecida com o que inferimos de alguma disciplina da faculdade por "jornalismo colaborativo". Ao menos é mais fácil perceber esta semelhança do meu ponto de vista, que tem a cada scroll na timeline um bombardeio sem fim de percepções sobre o que vem acontecendo sobre os últimos fatos sociais - ainda na esteira do aprendizado acadêmico - que tomaram lugar na nossa sociedade.

Ah sim… a tal da sociedade. Alguém muito esperto dirá que a mesma não é nada além do reflexo de seus próprios cidadãos. Eu - não mais esperta que essa pessoa - direi que me lembro de ter lido uma notícia em 2010 dizendo que a audiência de algum paredão do Big Brother havia superado a de um debate presidencial veiculado por qualquer outra emissora que não a Globo, é claro. À parte discussões sobre as estratégias maquiavélicas plin-plins, um povo que hoje sai às ruas clamando por melhorias aqui e acolá deveria ter se atentado para o governante que ia estar à frente dessas questões enquanto ainda era tempo. Deveria. Mas não foi. E tudo bem, do meu ponto de vista isso é completamente perdoável. Eu não sou politizada desde a posição fetal - e até hoje, nos meus humildes e bem-vividos 21 anos de idade, não acho que 'mereça' a etiqueta. Então, na mais cliché das perguntas, pergunto: Quem sou eu para julgar o telespectador do BBB que sai às ruas no maior clamor desde os controversos 60? Mas num raciocínio que me parece mais justo, re-elaboro: Quem é você, que decidiu politizar-se ontem, para julgar quem decidiu politizar-se hoje?

O excesso de opinião e a absoluta necessidade de expressá-la vindo de todos os lados - direita, esquerda, cima e baixo, com destaque para a metáfora - me desespera. E isso não é de agora, esse tiro cruzado. É a mesma história de quando já neste ano o Chávez morreu, de quando a PM quis ocupar em 2011 o campus da USP e de quando Quem Quer Ser um Milionário ganhou o Oscar de 2009. Todas elas re-escritas. E vale compartilhar, tenho uma noção sobre os fatos de hoje infinitamente diferente do que tinha então (me chame de Jabor). Estamos saturados de informação, estamos fartos, cansados. Basta.

Mentira, é claro. Queremos é mais. Quanto mais, melhor, inclusive. "Mais embasamento terei para formular um raciocínio."

A reflexão acerca do que vem acontecendo é absolutamente necessária do meu ponto de vista, pois transcende idiossincrasias, partidarismos, concordâncias e discordâncias. Vai além. Chega ali, no imo do nosso papel como indivíduo nessa tal de sociedade. Acho que falta a alguns perceber que é importante exercitar essa reflexão, construir um senso crítico e entender aos poucos no que quer e não quer acreditar. Falta compreender que a manipulação e formação de opinião como poderes que a grande e sacra mídia detém são fatores a serem refletidos também (não apenas demonizados). E falta compreender que compartilhamentos e likes desembestados são nada além do reflexo zuckerbergiano da carência pela aprovação de opiniões quase sempre recicladas.

Acho que tecer qualquer tipo de conclusão agora seria o mesmo que riscar e anular cada palavra que redigi até aqui e simplesmente desperdiçar um espaço virtual livre de taxações (o que me parece raríssimo nas últimas semanas). Afinal de contas, não quero me posicionar. Ainda não sei o que penso a respeito de tudo isso, que é assustadoramente novo e diferente ao meu jovem par de olhos. Será que tudo bem?