sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Boa viagem

Desejo-te cada segundo de cheiro novo, de receitas nostálgicas e de novas experiências que passarás a apreciar
Que os odores e os aromas enriqueçam teus dias, mas principalmente tuas noites a passar
Desejo-te os mais enérgicos toques, pra que a ti possam acariciar, mas também calejar
Que sejam ora sutis, ora ardentes, como o clima tropical que deixas pra trás
Desejo-te o mais doce dos sabores, como o do cacau que tanto lhe apraz
Que teu paladar se iguale à vontade de comê-lo em quilos de barras que você sempre traz
Desejo-te a mais avassaladora das visões, pra quando o desconhecido fores explorar
E que as surpresas ocasionem o medo, apenas pra que a todos possas superar
Desejo-te os sons da felicidade e da paz que tanto mereces conquistar
Mas que a essência do teu tom não mude, e que as notas tuas te acompanhem até lá

Desejo-te o mais intenso rol de sensações, e que estas estejam bem acompanhadas
Desejo que tome doses cavalares de sonhos realizados
Desejo, irmão, que tais sonhos recebam as devidas doses de comemoração
Desejo ainda que saibas: sonho este é nada além do primeiro que está por vir
Desejo-te, pois, a mais forte das ânsias pra buscar os outros que ainda virão

Desejo-te uma avalanche de sentimentos, e que encontres aquele algo e aquele alguém que te ajudem a deixá-los escorrer
Desejo-te a distância que tanto me entristece a alma, mas a desejo apenas por saber que a desejas também

Desejo-te ao rosto o mais sincero dos sorrisos
E que, por favor, por obséquio, por gentileza, por mim
Que perca um pouco deste teu tão presente juízo

Por fim, desejo-te tudo que te eleve e que te leve aos sonhos e às vontades
Desejo-te os desejos mais profundos
Desejo-te toda a felicidade
Do mundo

Cheiro de bolo na Mantiqueira

Era manhã fresca de primavera, um domingo qualquer de 1997. Frederica acabara de tirar o bolo do forno e seguira os passos que costumava dar em todas as suas receitas de patisserie: mergulhou um palito de dente em toda a profundidade da massa quente e o retirou com calma, analisando atentamente o que se saía na minúscula superfície de madeira, e confirmou o ponto do doce; delicadamente, com uma pequena peneira cor-de rosa, polvilhou açúcar em toda a cobertura, de forma que cada fatia contivesse tanta doçura quanto aquela do preparo; e cobriu-o carinhosamente com um pano de prato recém-bordado de pequenas flores de lis em diferentes tons de azul.

Na varanda, uma cadeira de fios azuis suportava o generoso peso do marido faminto, ansioso pelo bolo de nozes. Sua única atividade naquele momento era sacar um cigarro uruguaio do maço '007' adquirido no início daquela manhã no camelô da avenida. O pacato movimento de cidadãos pela via de paralelepípedos e o balanço sutil dos galhos da jabuticabeira do outro lado da rua pareciam entretê-lo suficientemente. Nem metade do cigarro ainda tinha fumado e deu logo um último trago fundo, ouvindo a brasa queimar. Cumprimentou um passante com um aceno sutil de cabeça e apagou o '007' no cinzeiro de prata apoiado na mureta ao lado.

Antes que pudesse levantar e levar consigo até a cozinha sua vontade de comer o bolo recém-saído do forno, ouviu motor de carro. Eram pneus conhecidos nos paralelepípedos assustando os passarinhos que cantavam nos fios elétricos. Na frente do portão vazado, o ruído cessou, o carro estacionou, o motor desligou. Um casal de crianças branquinhas desceu serelepe de uma das portas traseiras. Rosana gritava da sacada, no primeiro andar, de felicidade ao ver os sobrinhos. Suzana descia do automóvel pela porta dianteira e abria um sorriso largo. George retribuiu com a pergunta de sempre: "Bom dia. Trouxeram meu gato invisível?"

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Sujeito

Deito em teu peito
E me deleito
Com seus trejeitos
E te lembro teus malfeitos
A despeito
Do desfeito
E suspeito que o afeito
Pelo efeito
Desse amor
Foi refeito
Mas te aceito imperfeito
Não rejeito teus defeitos
E me ajeito em teu leito
Te endireito
Desse jeito
Assim, estreito
Assim, perfeito