sábado, 19 de outubro de 2013

Flores de liz, colo de vó e a Rita Cadillac

Ela entrou ansiosa pelo aconchego eventual que quatro paredes - neste caso floridas - de um bar qualquer pudessem lhe proporcionar. 'Onze Graus Celsius' marcava o relógio da cidade, com sensação térmica de sete. Ou cinco. O asfalto era tão gelado quanto o contato dos dedos com o copo americano em seu mais glorioso estado: cheio. Pareceu-lhe conveniente e suficientemente brasileiro pedir um caldinho de feijão. Nada de harmonização, apenas goles quentes e gelados de sabores salgados e amargos, ou nostálgicos e terapêuticos (respectivamente, ou não). À mesa, o feijão e a cerveja, ambos em copo americano, cada um no seu.

Não fosse São Paulo, estranharia o mendigo na calçada se esquentando com a caixa de uma TV que deveria ter mais polegadas do que Hong Kong tem gente. Ele estava feliz, já que um menino de cabelo loiro conversava com ele tão proximamente quanto seu desapego social lhe permitia chegar. E digamos que ultimamente ele parecia empenhado no desapego - e o empenho crescia na mesma proporção da conta do bar. Ele olhava no olho do homem de rua, que aceitava o convite inebriado para se hospedar em sua casa. Enquanto isso, a moça que acompanhara o ariano politicamente correto até então olhava o céu e parecia ver ali a beleza que quem está bêbado e/ou entediado normalmente vê. Recentemente trocada pelos encantos desprendidos do nômade, decidiu-se por tentar fazer das meninas que fumavam ali umas amizades novas.

Papos metalinguísticos sobre a habilidade social empreendida pela necessidade do cigarro, do isqueiro e de afins não necessariamente lícitos desenrolaram-se para além do frio. E as risadas de inconformismo lúdico em direção ao menino loiro empenhado em salvar o mundo não cessaram até que um sanduíche chegasse à sua mesa, ele e seu recheio de frango, salada, catupiry e queijo amarelo. Clássico, porém vulgar. E indiscutivelmente apetitoso. Talvez por isso estivesse no cardápio sob o nome de 'Rita Cadillac'.

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